Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 2 - agosto de 2014

PONTO DE VISTA

A construção é hoje protagonista do desenvolvimento

Com 40 anos de atuação na construção civil brasileira, como empresário e também líder setorial, o engenheiro Sergio Watanabe, que acaba de concluir dois mandatos consecutivos no SindusCon-SP, testemunhou os altos e baixos pelos quais o setor passou ao longo desse tempo. “Felizmente, de 2005 para cá, a construção civil passou do papel de mero coadjuvante para o de protagonista do desenvolvimento socioeconômico”, analisou ele em entrevista à Industrializar em Concreto. 
Em função de sua vasta experiência no setor, Watanabe salienta que nesse processo de modernização da construção civil e da engenharia brasileira, os sistemas industrializados de construção têm desempenhado papel essencial. “O pré-moldado tem dado uma contribuição relevante para o setor, uma vez que a industrialização moderniza processos produtivos, agiliza prazos e muda o perfil da mão de obra, elevando seu patamar de especialização” comenta.


No entender de Watanabe, essas características do pré-moldado são especialmente decisivas na necessidade do País erradicar o déficit habitacional. A seu ver ele não será superado apenas com base nos processos construtivos convencionais. “Achamos que é possível erradicar esse déficit até por volta de 2030, e a industrialização está inserida nessa meta. Alguma industrialização já está em andamento na área habitacional, liderada por grandes construtoras, mas também seguida por médias e pequenas”, diz Watanabe. Na sequência, os demais pontos abordados por ele na entrevista:
Que análise o senhor faz da influência e da importância do pré-moldado de concreto na industrialização da construção civil brasileira?
O pré-moldado é muito importante. Ele vem se disseminando especialmente na construção industrial e comercial. Começou a ser mais utilizado na construção residencial, inclusive na habitação popular e tem um grande espaço para seguir sua trajetória de ampliação, uma vez que a industrialização tornou-se uma necessidade, em função do esgotamento da capacidade de oferta crescente de mão de obra para o setor.
Qual tem sido a contribuição efetiva da industrialização para a construção civil do País?
Trata-se de contribuição relevante, uma vez que a industrialização moderniza processos produtivos, agiliza prazos e muda o perfil da mão de obra, elevando seu patamar de especialização. Ensanduichada entre prazos exíguos e escassez de mão de obra, a construção tem como única saída a elevação da produtividade, e nesse aspecto a industrialização é fundamental.
Quais são os principais entraves para uma plena industrialização da construção no Brasil atualmente?
A elevada carga tributária é um dos grandes entraves. No caso específico dos pré-moldados de concreto, temos uma meta comum, que é a de reduzir sua tributação, atualmente baseada em IPI mais ICMS. Essa redução baratearia o custo e viabilizaria o emprego maior de pré-moldados de concreto.
Além disso, são necessários outros estímulos à industrialização, como a redução tributária sobre máquinas e equipamentos em geral, e um estreitamento maior de trabalho entre universidades, institutos de pesquisa e construtoras.
Um ponto importante é a necessidade de os fabricantes de pré-moldados se aproximarem cada vez mais das construtoras voltadas à produção habitacional, buscando criar produtos que sejam economicamente viáveis para sua larga utilização nos empreendimentos imobiliários.
Qual o papel desempenhado por entidades de classe, como SindusCon-SP e Abcic, no processo de industrialização da construção?
Trata-se de papel estratégico, buscando identificar o que pode ser industrializado, quais são os entraves e agindo por sua remoção. SindusCon-SP e Abcic devem trabalhar conjuntamente nesta direção.
Quais são, em sua visão, as medidas necessárias para acelerar o processo de industrialização da construção civil no Brasil?
Além daquelas já mencionadas (redução da carga tributária, novos estímulos, maior integração com a academia e diálogo entre produtores de pré-moldados e construtoras), é preciso avançar no processo de formação da mão de obra. É necessário que o Senai e outras instituições formadoras de pessoal para a construção se atualizem constantemente com as novas técnicas e processos, para suprir o mercado com pessoal especializado.
Como dar conta, por exemplo, do grande déficit habitacional, se valendo apenas de métodos construtivos convencionais? Acha que isso é possível? No ConstruBr, realizado recentemente, o senhor enfatizou a importância da industrialização nesse processo. Poderia falar um pouco mais sobre esse tema.
Evidentemente não daremos conta de erradicar o déficit apenas na base dos processos convencionais, primeiro por uma questão de prazo: achamos que é possível erradicar esse déficit até por volta de 2030 e a industrialização está inserida nessa meta. Alguma industrialização já está em andamento na área habitacional, liderada por grandes construtoras, mas também seguida por médias e pequenas. Novas técnicas estão sendo homologadas pelo governo federal, e empreendimentos construídos com essas técnicas estão obtendo financiamento da Caixa e do Banco do Brasil. O que precisamos fazer agora é disseminar ao máximo, porque a escala também é importante.
Nesse sentido, queremos mais do que simplesmente uma terceira fase do Programa Minha Casa, Minha Vida, já prometida pelos principais candidatos à Presidência da República para o período de 2015 a 2018. Almejamos que esse programa se transforme numa política de estado, com recursos que viriam de forma perene do Orçamento da União, dos Estados e dos Municípios. Inclusive há uma proposta de emenda constitucional, a PEC da Habitação, já aprovada em comissão especial da Câmara e do Senado, e que depende apenas da vontade política dos governantes para seguir a plenário e passar por sanção presidencial, o que infelizmente até agora não ocorreu.
Quais são, em sua análise, as perspectivas da construção civil brasileira para os próximos anos?
As perspectivas para este e o próximo ano são de manutenção de um baixo crescimento, devido à diminuição do volume de investimentos ocorrido e à provável arrumação nas contas do governo no ano que vem, que pressupõe uma forte contenção das despesas governamentais. Entretanto, a forte demanda pela ampliação da infraestrutura e por moradia deverá assegurar um crescimento contínuo da construção, que esperamos que volte a ser robusto a partir de 2016.
Atualmente, qual o principal gargalo do setor?
O principal entrave a uma maior expansão da construção é a retração nos investimentos. Temos outros gargalos importantes: a elevada tributação, o excesso de burocracia na aprovação de empreendimentos, a insegurança jurídica gerada especialmente em questões trabalhistas não pacificadas tais como terceirização e definição de trabalho escravo, e escassez de mão de obra. Tudo isso cria dificuldades ao ambiente de negócios na construção. Precisamos urgentemente desanuviá-lo.
Qual a recomendação mais importante para fazer deslanchar os grandes projetos ligados à área de construção?
Que no governo se crie uma mentalidade francamente favorável à melhoria do ambiente de negócios, com mais diálogo com a construção e mais planejamento no tocante à expansão da infraestrutura.
Fale um pouco sobre sua trajetória e experiência como líder empresarial na área da construção.
Tenho atuado no setor nos últimos 40 anos, e testemunhado os altos e baixos pelos quais a construção viveu. Felizmente, de 2005 para cá a construção passou do papel de mero coadjuvante para protagonistas do desenvolvimento socioeconômico. Ingressei na diretoria do SindusCon-SP em 1992, e desde então fui vice-presidente Financeiro e de Obras Públicas, tendo sido eleito presidente em 2008. Após dois mandatos consecutivos, agora devo seguir atuando como vice-presidente da CBIC, cargo que já desempenhava. Além disso, participo do Conselho Deliberativo do Seconci-SP. Nos últimos anos também atuei como diretor da Fiesp- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e conselheiro do Senai-SP. 

Nós usamos cookies para compreender o que o visitante do site Industrializar em Concreto precisa e melhorar sua experiência como usuário. Ao clicar em “Aceitar” você estará de acordo com o uso desses cookies. Saiba mais!