Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 21 - dezembro de 2020

ABCIC EM AÇÃO

Especialistas debatem segurança e saúde do trabalho no setor de pré-fabricados de concreto

Promovido pelo Instituto Trabalho e Vida, Seminário virtual contou com o apoio técnico e o patrocínio da Abcic. e teve a participação de engenheiros, arquitetos, acadêmicos, empresários e profissionais ligados à construção civil

Um dos principais aspectos trabalhados pelo setor de estruturas pré-moldadas de concreto é a segurança e saúde do trabalho (SST). Além de cumprir rigorosamente as normas técnicas e as normas regulamentadoras (NRs), as empresas também contam com programas para capacitação e qualificação profissional e adoção de boas práticas em todos os processos da obra. Nesse sentido, uma fase vital é a montagem das estruturas. Por isso, em 2019, a Abcic lançou o “Manual de Montagem das Estruturas Pré-moldadas de Concreto”.
De acordo com a engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, o Manual é uma importante ferramenta para a contribuir com as boas práticas de SST, sendo complementar às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e às NRs. “Quando (as NRs) foram desenvolvidas as maiores referências eram as obras construídas em canteiros, ficando uma lacuna em relação aos sistemas industrializados, que requeriam maior atenção em alguns aspectos, principalmente nas que diferem da forma tradicional de construir”, disse Íria, durante a abertura do Webinar Boas Práticas em SST em obras industrializadas com uso de pré-moldados de concreto, promovido pelo Instituto de Trabalho e Vida, com o apoio e patrocínio da Abcic. “Por essa razão, poder, em parceria com o Trabalho e Vida que contribuiu, junto com outras entidades, para a validação final do Manual, aliar o contexto da nova NR-18 com palestras relacionadas ao tema específico da pré-fabricação em concreto é de vital importância para levar informação qualificada não somente aos usuários do sistema, mas também para a indústria e fiscalização”, complementou. 
Para o engenheiro civil e de segurança do trabalho Juarez Correia Barros Júnior, do Instituto Trabalho e Vida, o pré-moldado de concreto é, sem dúvida, um dos setores que mais cresce no Brasil, porque tem características que trazem essa relação entre qualidade e produtividade, além de uma tecnologia usada em cada uma de suas soluções para obras. “É um setor que responde às demandas de diversas obras. Uma solução limpa, que reúne técnicas modernas”, afirmou. Ele comentou sobre o lançamento do Manual, que está sendo bastante consultado por diversos públicos, e sobre a importância de realizar um evento voltado para a saúde e segurança do trabalho no setor, após entendimentos com a Abcic.
Sobre o manual, o engenheiro Luiz Otávio Baggio Livi, diretor de marketing da Abcic, em sua palestra, disse que seu conteúdo bem abrangente veio preencher uma lacuna em todo o processo de montagem das estruturas pré-moldadas de concreto, desde o planejamento até a entrega e montagem. “A inciativa do manual atende a uma demanda antiga das empresas do setor da industrialização do concreto, visando a melhoria e padronização de processo. O objetivo foi também um maior rigor e qualificação técnica para assegurar a eficiência e segurança de toda a operação, além de ser um referencial para o manuseio de fiscais, técnicos e demais “stakeholders” do processo”, afirmou.
A programação do evento, promovido virtualmente entre os dias 16 e 20 de novembro, contou com palestras técnicas e o case do empreendimento Parque da Cidade, cuja apresentação foi ministrada por Marco Antônio de Oliveira, sócio diretor da CPI Engenharia, e Marcelo Pulcinelli, vice-presidente de engenharia da Matec Engenharia, que ressaltaram que a pré-fabricação em concreto permitiu uma redução significativa dos riscos de segurança, além de possibilitar o atendimento do ousado cronograma de obras. 

O engenheiro Luiz Otávio Baggio Livi, diretor de marketing da Abcic, apresentou o Manual de Montagem da entidade para os participantes do Seminário do Instituto Trabalho e Vida

Para o projeto, foi necessário criar roteiros de segurança devido ao alto movimento do canteiro de obras - pessoas, peças, equipamentos e materiais – e isso exigiu treinamento contínuo dos profissionais do pré-moldado de concreto. Foram utilizadas seis gruas, sendo duas para cada bloco, com capacidade entre 200 e 450 toneladas. “Sem os equipamentos não haveria qualquer possibilidade de acontecer. Elas atingiram de 130 a 145 metros da base das fundações para atender todas as frentes necessárias”, disse Oliveira. As gruas foram usadas para todos os eventos da obra. 
A montagem da parte vertical foi realizada na parte noturna, período no qual havia menos pessoas no canteiro de obras. Eram 18 operadores e 36 sinaleiros-amarrador para essa etapa, que passavam diariamente por treinamento porque o canteiro mudava permanentemente. Outro ponto destacado na palestra foi que para dar ainda mais suporte à segurança foi implantado um sistema anticolisão, que bloqueava o sistema quando as lanças das gruas ficavam a menos de cinco metros de distância. (Confira matéria sobre esse projeto, na página 26). 
Sobre essa obra, Íria informou que, por duas vezes, visitou o canteiro de obras desse empreendimento com o coordenador do Grupo de Edifícios Altos pré-fabricados no âmbito da comissão de pré-fabricados da fib o projetista de estruturas George Jones, do Reino Unido. “A engenharia brasileira atingiu tal nível de desenvolvimento e aprimoramento técnico, que está compatível com o desenvolvimento internacional. Esta obra em distintas interfaces do uso da industrialização aos cuidados com a segurança aqui apresentados tem comprovado o compromisso com as boas práticas e o desenvolvimento tecnológico. O setor evoluiu muito nas soluções nos últimos anos e tem qualidade, segurança e meio ambiente como agenda permanente com o devido respaldo institucional”.
Na área técnica, o engenheiro Antônio Pereira do Nascimento, auditor fiscal do Trabalho e coordenador do Projeto da Construção da Seção de SST da SRTE-SP, salientou que o número de acidentes e óbitos veem caindo ano a ano, graças as várias normalizações e boas práticas, que possibilitam um maior planejamento e minimizam possíveis riscos na construção com pré-moldados de concreto. Nesse aspecto, ele apresentou alguns casos de montagens e de içamentos incorretos que culminaram em acidentes, inclusive fatais, como na Neo Química Arena (Itaquera) durante a montagem da cobertura metálica e em estações do metrô. 
O auditor defendeu como importante e fundamental as participações dos profissionais de segurança já na fase de projeto que, num grupo de trabalho, poderiam ajustar os equipamentos mais adequados, evitando com antecedência as más práticas. Sugeriu ainda, um programa de gerenciamento de riscos fase a fase, desde o início até a entrega da obra, com uma análise de riscos efetuada por uma equipe, além de um maior controle sobre os prestadores de serviços terceirizados.  
Ele lembrou que a legislação prevê, para os próximos anos, que as cabines de gruas e guindastes terão que ser refrigeradas, permitindo um maior conforto e segurança ao trabalhador que, normalmente, fica exposto por várias horas em condições precárias. Nesse aspecto, também reivindicou um maior compromisso das empresas sobre o controle das horas efetivamente trabalhadas e o descanso regulamentar, fundamentais para a maior segurança na operação.
O auditor-aposentado Fiscal do Trabalho Gianfranco Pampalon discorreu sobre “Medidas de Proteção para o trabalhador em altura”. Conforme estabelece a NR-35, em que todo o trabalho em altura deve ser previamente planejado e organizado, bem como deve ser realizado por um profissional capacitado e treinado. Ele trouxe exemplos reais de medidas de proteção usadas nas obras de pré-moldados, desde aquelas que eliminam o risco do fator altura, até medidas de proteção coletiva, de engenharia, administrativa e, por fim, individual. 
Em sua apresentação, Pampalon também comentou sobre a substituição do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria de Construção (PCMAT) pelo Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), a partir de agosto do próximo ano. Os PCMATs vigentes continuam válidos até a conclusão de suas respectivas obras. Segundo ele, o PGR terá alguns requisitos na NR-18, que não estão na NR-1, como por exemplo, o projeto dos sistemas de proteção coletiva, o projeto de SPIQ - sistema de proteção individual contra queda e a relação de EPI e suas respectivas especificações técnicas. “A fase de projeto será fundamental para informar os requisitos do PGR”. 
Esse assunto também foi trazido o engenheiro Gilmar Trivelato, pesquisador da FUNDACENTRO, e a médica Dora Elisa Rodrigues Tolosa, do Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo (Seconci-SP), na palestra GRO – Gerenciamento de Riscos Ocupacionais e ao PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos nas obras pré-moldadas. 
Eles acentuaram que hoje existe um casamento entre a medicina e a engenharia, objetivando uma melhoria da preservação da saúde dos trabalhadores, com medidas preventivas, que eliminam fatores de riscos. Existe um gerenciamento de riscos, um Programa de Saúde Ocupacional antes mesmo que ocorra várias atividades humanas, eliminando fatores de riscos.
Já o engenheiro Jacques Raigorodsky, consultor da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), defendeu que todo o Plano de Rigging garante a eficiência e segurança na operação, porque as operações previstas são simuladas. “É possível prever e evitar danos nas operações, tornando o procedimento mais seguro”.
Ele comentou ainda que toda a movimentação de carga possui riscos potenciais embutidos e sua mitigação envolve ações gerenciais sobre: equipamentos, pessoas, procedimentos e planejamento. Ainda apresentou exemplos de estudos em diferentes obras do Brasil e do exterior, em que houve falhas no plano e ausência de estudos pormenorizados, como por exemplo, de solo, capacidade estrutural, perda de estabilidade, entre outros, que culminaram em acidentes.
O engenheiro Rodolfo Mota falou sobre “Sistemas de Içamentos e fixação” e afirmou sobre a importância da a utilização correta dos equipamentos e do melhor treinamento e apoio técnico ao trabalhador. Ele ressaltou que “muitas empresas utilizam caríssimas máquinas de movimentação, sem dar um nível adequado de treinamento ao funcionário para o manuseio das mesmas”. Assim, mostrou, por exemplo, como um pino de segurança mal colocado pode significar a perda significativa de valores e de vidas.
Em termos de sustentabilidade, o professor Celso Luchezzi, especialista em logística reversa, trouxe informações sobre geração de resíduos e a oportunidade para reciclagem desses materiais. Sobre a industrialização, enfatizou que o volume de resíduos gerados é muito menor e a organização no canteiro de obras. “Nós sabemos que nem tudo poderá ser industrializado, mas será que algumas partes do projeto não será possível aplicar a industrialização?”, questionou. A seu ver, o setor da construção civil está inserido nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas e que a industrialização precisa ser incentiva na construção civil.

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