Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 21 - dezembro de 2020

ABCIC EM AÇÃO

Evento virtual da Abcic apresenta cenários para 2021 no setor da construção e dicas para não perder as oportunidades em diferentes situações

A economiSTa Ana Maria Castelo, da Fundação Getulio Vargas, e o empresário Luciano Pires, personal trainer de fitness intelectual, ministraram as palestras durante o evento, exclusivo aos associados, que teve mediação da engenharia Íria Doniak e a abertura de Guilherme Philippi, presidente executiva e presidente do Conselho Estratégico, respectivamente

Economista Ana Castelo: “O descompasso entre oferta e demanda tem rebatido no preço desses insumos, que chegou a uma elevação de até 34% em novembro”

Outro ponto ressaltado por ela foi a dificuldade na compra de insumos, que está ocorrendo de forma generalizada, afligindo todos os setores da economia de maneira forte, com exceção da área de serviços. Uma pesquisa da FGV mostrou que o segmento empresarial, indústria, comércio e a construção assinalaram que esse fator é preocupante e que os principais insumos, nesse cenário, são o aço, o cimento e os produtos de metal. “O descompasso entre oferta e demanda tem rebatido no preço desses insumos, que chegou a uma elevação de até 34% em novembro. A desvalorização cambial também tem interferido no preço dessas matérias-primas”. Mas, em uma das perguntas feitas no debate, Ana acrescentou que essa situação deve se arrefecer nos primeiros meses de 2021.
Sobre o próximo ano, a expectativa da FGV é uma alta de 3,8% no PIB do setor da construção. No entanto, Ana ponderou sobre alguns aspectos importantes que podem influenciar essa projeção, como por exemplo, as incertezas elevadas e a situação fiscal difícil do governo. Isso porque a dívida pública, que já estava elevada (70% do PIB), chegou por volta dos 90%. “É uma questão que traz uma nuvem grande de incertezas”, pontuou. Além disso, ela trouxe outros dois pontos que corroboram para essa situação: o orçamento do próximo ano sequer foi aprovado e a falta de protagonismo do governo e do congresso no sentido de sinalizar o retorno da agenda de reformas.
A capacidade de ação do poder público também foi avaliada por Ana, uma vez que existem muitas obras paralisadas por falta de gestão ou por recurso financeiro, o que significa um potencial da ação. Mas isso dependerá da renegociação de uma parte da dívida pública. Ela comentou ainda sobre um estudo da Associação Brasileira das Indústrias de Base (Abdib), que apontou a importância do investimento público na infraestrutura. “Ao passar dos anos, o setor público perdeu espaço nessa área, mas o privado não conseguiu substituir a lacuna desses recursos financeiros”. 
Por outro lado, a economista também falou de aspectos positivos como a retomada das obras, vendas e lançamentos do mercado imobiliário, expansão do crédito e redução das taxas de juros, a aprovação do marco legal do saneamento, os aportes do Minha Casa Verde Amarela e a lei de falências. Por fim, ela ressaltou a importância da atuação das entidades nesse cenário, a fim de cobrar ações e contribuir com sugestões para a recuperação do setor e da economia. 
Na sequência, o empresário Luciano Pires, personal trainer de fitness intelectual, trouxe diversas reflexões sobre o momento vivenciado neste ano. “A incerteza está sempre presente quando começamos algo novo. Para combate-la, fazemos planos e quanto mais detalhado o plano for, mais tranquilidade falsa ele gera. E é falso porque estamos diante do desconhecido”, considerou. 
Ele argumentou que o planejamento de projeto precisa ser extremamente detalhado, enquanto o planejamento estratégico precisar ser o caminho, mas não o final, porque ele não lida com números absolutos ou um ambiente controlado, mas sim com uma visão. “Quanto mais elaborado for o plano, menos opções e menos chance de se aproveitar as oportunidades que surgem”, raciocinou. 
Em sua apresentação, Pires trouxe alguns conceitos apresentados pelo analista de riscos líbano-americano e escritor Nassim Nicholas Taleb, como por exemplo, o fragilista, que é aquele que odeia a desordem e busca a estabilidade, comando e controle; e o antigrafilista, que busca a estabilidade, aceitando os desafios e a aleatoriedade. Também forneceu cinco dicas em sua palestra, incluindo a incorporação dos feedbacks do mercado no plano e a implementação de processos para compensar as ocasiões de estresse e falha. “Acima de tudo, não tente se proteger da aleatoriedade e do estresse. Isso faz parte da vida”. 
Após as duas palestras, Íria moderou o debate que contou com perguntas dos associados participantes sobre os temas abordados por Ana e Pires. Um dos questionamentos abordou como uma empresa pode se preparar para um cenário de recessão econômica repentina, sob a ótica da antifragilidade. Pires respondeu que uma novidade dessa crise foi que, diferentemente de outras vivenciadas no país, não atacou diretamente a economia, mas sim a vida das pessoas. “A primeira lição é que ela pode vir outra vez, assim podemos nos modelar para ter o resguardo de “colchão” que não tivemos desta vez”, disse o personal trainer de fitness intelectual sobre a média de caixa no Brasil ser pouco maior do que 50 dias. Para Ana, infelizmente, a realidade das empresas é bastante distinta no Brasil e, com isso, muitas acabaram quebrando nessa pandemia, porque o crédito não chegou.

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