Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 6 - dezembro de 2015

GIRO RÁPIDO

História do pré-fabricado


No início de agosto, a Abcic recebeu uma visita especial em sua sede, localizada em São Paulo. O engenheiro Newton Callegari, que atuou na empresa de pré-fabricados CINASA (Construção Industrializada Nacional S.A), que teve por origem a Construtora Rabello responsável pela construção do Complexo da Pampulha e principal construtora de Brasília, no início dos anos 60. Ele compartilhou com a presidente-executiva Íria Doniak, a história dos movimentos iniciais para a implantação do segmento no país e entregou materiais – revistas, livros e textos –, que contam sobre o início e os desafios do pré-fabricado no Brasil, especialmente na área habitacional.
Dentre os textos compartilhados, de acordo com Íria, chamou atenção, especialmente, um vasto estudo (ainda datilografado) de sua autoria, designado “O Brasil e O Problema Habitacional”, datado de 1964, na qual Newton conclui que:
- O problema habitacional não era um fenômeno exclusivo do Brasil, mas de todo o mundo e, de forma especial, um problema agudo nos países então chamados subdesenvolvidos. Diante da impossibilidade de atender as necessidades devido a sua grande magnitude, futuramente, os recursos internacionais como forma de financiamento seriam muito disputados e, por serem imprevisíveis e sujeitos a política de toda ordem deveriam ser considerados não modificáveis, sobretudo no longo prazo.
- Havia uma tendência à socialização da habitação com uma forte atuação do Estado.
- Os países do grupo chamado desenvolvido, quando enfrentaram o problema da crise na habitação cuidaram, antes de tudo, da indústria da construção civil, alterando a forma tradicional de construção dada à magnitude da tarefa.
- Havia um erro em tratar apenas os aspectos conjunturais da “atual” crise habitacional. Que os efeitos corretivos da crise, no sentido da eliminação das deficiências que haviam reformulado os processos não haviam sido, erroneamente, sentidos na construção civil impondo as modificações de ordem tecnológica necessárias.  
- A expectativa era de que o Governo, para o “novo” Plano Habitacional, não chegasse à socialização do desperdício e sim, ao invés de pensar em estimular a construção civil para absorver a mão de obra desempregada, que estimulasse a industrialização visando a capacitação e a escala, de maneira que a mão de obra fosse absorvida de forma permanente, como resultado da aceleração e racionalização do processo.
- Não se pretende que apenas a introdução das novas tecnologias resolvesse os problemas, mas sim o esforço de toda a nação. Porém, que este esforço fosse canalizado para se passar de 100 unidades construídas para 130 unidades, encurtando assim o caminho de moradia digna para todos os brasileiros.
Também foi entregue à Íria pelo engenheiro Newton uma cópia do trabalho datilografado pelo Arquiteto Rosso (FAU/USP), entusiasta e estudioso dos processos racionalizados e da industrialização, cuja bibliografia é amplamente citada nos tratados sobre o tema, o comparativo dos sistemas tradicionais com os industrializados destacava: Desperdício de Tempo, Desperdício de Materiais, Lentidão da Execução, Imprevisibilidade, Intromissão de Leigos, Falta de Padronização e ausência de Coordenação Modular. 
Destacou ainda no trabalho os obstáculos culturais presentes na América Latina, que, se por um lado, é vivaz e genial, por outro se mostra “antiorganizativa”. Também o fator psicológico que atua em nossa cultura define todo o padrão que impõe uma diretriz e uniformidade pelas imposições sofridas em nosso país. Mas a padronização em nada desmerece a genialidade de concepção. Citando Gropius em “Architeture in a scientific world”, um trabalho feito na década de 50 já lembrava que os arquitetos daquela época estavam convencidos da necessidade de aderir a uma forma mais estreita aos termos de uma civilização que, dia a dia, parecia escapar-lhes deverão elevar a arquitetura a um estágio industrial de altíssima qualidade, valendo-se da faculdade, de que sendo artistas, lhes é própria de poder reconduzir continuamente a unidade de síntese, os aspectos mais diversos da extensa problemática concernente à síntese. A Arte e as necessidades sociais deveriam caminhar juntas. Este equilíbrio qualificaria a arquitetura no futuro.
Por fim, em sua conclusão, nas dicas de como atuar no desenvolvimento da industrialização no Brasil, fala da importância da normalização e do apoio da ABNT para o desenvolvimento das normas técnicas, mas que acima de tudo elas fossem utilizadas. Enfatiza para a necessidade da criação de uma associação coordenadora de profissionais e empresas com interesses voltados à industrialização e um instituto dedicado a estudos de incremento à produtividade e industrialização da construção, tendo como objetivo principal a pesquisa.

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