Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 12 - dezembro de 2017

PONTO DE VISTA

Indústria de pré-fabricados de concreto está capacitada a produzir edificações habitacionais dentro de parâmetros de custos e qualidade


Ercio Thomaz, com Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, e o arquiteto Paulo Campos, no Prêmio Obra do Ano 2017
O IPT é uma Instituição Técnica Avaliadora do SINAT. Em sua opinião, quais são os principais desafios técnicos enfrentados pela indústria para obtenção das DATEC’s?  Qual é a sua percepção do antes e depois das empresas que aderiram ao programa?
O principal problema é o tempo demandado para uma boa avaliação técnica (que pode levar mais de seis meses, e às vezes até um ano). Normalmente, os sistemas são apresentados com algumas não conformidades ou aspectos a serem melhorados, verificando-se alterações e reavaliações ao longo do processo. Aí, às vezes com razão e outras vezes injustamente, somos taxados de “muito morosos”. Mas, há uma grande responsabilidade na hora em que avalizamos determinada tecnologia, considerando segurança estrutural e contra incêndios, desempenho térmico e acústico, durabilidade potencial. O DATEC obtido por determinada empresa atesta adequação do projeto à norma 15575 e capacidade da empresa controlar a qualidade do produto construído. Sem dúvida, é uma segurança para a companhia de habitação e para o usuário final, além de ser um bom diferencial de mercado.
No caso de obras de Habitação de Interesse Social, quais são os principais benefícios do uso do pré-fabricado de concreto? Existe algum desafio técnico que precisa ser superado pelo setor?
O principal benefício consiste na construção em larga escala, com uso racionalizado de materiais, processos, equipamentos e recursos humanos. Com a eventual obtenção de DATEC, o sistema construtivo em pré-moldados demonstraria condições potenciais de conforto, segurança e durabilidade. Não há desafio técnico importante, já que a quase totalidade das empresas nacionais de pré-moldados encontram-se totalmente capacitadas a produzir edificações habitacionais dentro de parâmetros razoáveis de custos e qualidade. O grande desafio é driblar políticas públicas que variam ao sabor das ondas e estruturas de poder por demais corrompidas.   
Quais os principais avanços conquistados pelas normas de pré-fabricados de concreto formuladas nos últimos anos?
O grande avanço é ombrear as normas técnicas brasileiras com as principais normas técnicas de pré-moldados existentes no mundo. Como testemunha disso, os avanços apresentados pela última revisão da ABNT NBR 9062 concernentes às diretrizes relacionadas à segurança contra incêndios, consideração aproximada da não linearidade física na análise global de 2a ordem/conceitos de ligações semirrígidas, desenvolvimento de projetos alicerçados em verificações experimentais e mais uma série de avanços. Também muito importante a publicação, ainda em março de 2017, da ABNT NBR 16475 sobre painéis pré-moldados em concreto, trazendo importantíssimas diretrizes para o projeto/análise estrutural (ações transitórias, presença de vãos, limites de fissuração, estabilidade global e local, ligações entre painéis, risco de colapso progressivo), segurança contra incêndio e durabilidade.
Ainda sobre normas, quais devem ser as principais diretrizes adotadas no futuro na normalização do setor pré-fabricado de concreto?   
Acredito que caberia normalização sobre pré-moldados leves, voltados essencialmente para pequenas construções e, particularmente, habitações de interesse social. Tal normalização poderia, por exemplo, abranger exigências da própria ABNT NBR 15.575, ou seja, o sistema que atendesse à norma de pré-moldados leves para habitação estaria automaticamente atendendo à norma de desempenho. Poderia também ser desenvolvida normalização específica sobre pré-lajes e pré-vigas, sistema que me parece muito interessante ao facilitar soluções de ligações estruturais, economia de fôrmas. No mais, considerando painéis, estruturas reticuladas, estacas, lajes alveolares e outros, o caminho é sempre revisar/adequar as normas aos avanços das técnicas e processos que forem ocorrendo no Brasil e no mundo.
Como avalia as ações da Abcic no sentido de estimular uma maior industrialização da construção civil? E, qual sua opinião, sobre o Selo de Excelência Abcic?   
Reconheço a boa atuação da ABCIC na divulgação das empresas associadas e dos produtos por elas oferecidos, no intercâmbio com as principais instituições do mundo no campo dos pré-moldados de concreto, no desenvolvimento da normalização técnica nacional, na realização de congressos com a presença de profissionais renomados, nos treinamentos e palestras oferecidas a estudantes de engenharia e arquitetura. Assim como a ABCP lançou no passado o projeto “Habitação 1.0”, talvez seja o momento da entidade propor um projeto pré-moldado para auxiliar no combate ao déficit habitacional e ao mesmo tempo promover a tão sonhada industrialização da construção. Sobre o selo, considero legítimo o processo que visa profissionalizar cada vez mais as empresas e zelar pela qualidade dos produtos oferecidos.
Baseado em sua experiência como professor, qual serão os principais desafios enfrentados pelos engenheiros no futuro? 
O principal desafio será desenvolver competências e aprender raciocinar sem o auxílio das diversas muletas oferecidas pela tecnologia da informação, que, de certa forma, se propõe a substituir o cérebro do engenheiro e do arquiteto por softwares de criação, cálculo, planejamento, gestão, modelagem, simulação, orçamentação, controle, segurança, automação e tantos outros. Tecnicamente, os desafios estarão relacionados com o domínio das novas técnicas de projeto e de construção, e com o conhecimento dos novos materiais, onde se enquadram os concretos auto-adensáveis, os concretos de altíssimo desempenho, as cerâmicas finas, os plásticos de engenharia, as madeiras reconstituídas, as estruturas mistas, os vidros “e-low”. De forma geral, aguçando os sentidos para as transformações que vêm ocorrendo no mundo com velocidade inusitada, o profissional de engenharia deverá assimilar cada vez mais conceitos de economia da construção, preservação de recursos naturais, reciclagem de materiais, ciclo de vida dos produtos e sustentabilidade.

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