Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 8 - agosto de 2016

PONTO DE VISTA

Para presidente da ASBEA, maior industrialização da construção no Brasil é uma questão mais cultural do que econômica

"Quando se pensa no déficit habitacional, o uso de pré-fabricado vem ao encontro das necessidades de velocidade e confiabilidade das obras"


Constantemente sintonizada com os mais modernos conceitos ligados à área de arquitetura e engenharia, como sustentabilidade, normas de desempenho e BIM, a presidente da AsBEA - Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, Miriam Addor, também tem forte ligação com sistemas construtivos industrializados, incluindo o pré-fabricado. Formada em arquitetura pela FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da USP, Miriam é sócia do escritório Addor & Associados Projetos e Consultoria desde 1995, teve uma experiência internacional nos EUA e Canadá, onde conheceu melhor o pré-fabricado de concreto, atuando numa indústria de painéis de fachada. “A desenvoltura com que arquitetos trabalham os pré-fabricados de fachada no Canadá e EUA é uma realidade corriqueira. Determina-se a diretriz da aplicação do sistema construtivo e parte-se para avaliações técnicas necessárias. Desde que a solução nasça com o projeto, pode-se reduzir em até 35% do tempo de construção em relação às soluções moldadas "in loco", diz a arquiteta. A seu ver, o espaço para maior uso da construção industrializada no Brasil é questão mais cultural que econômica”. A seguir, trechos da entrevista concedida à Industrializar em Concreto:


Como avalia o uso de pré-fabricado de concreto em projetos arquitetônicos no Brasil? Quais os segmentos mais propensos ao seu uso?
Quando falamos em projetos arquitetônicos, temos que considerar o amplo espectro que este tema abrange. Ao tratarmos de projetos voltados para infraestrutura, tais como aeroportos, terminais de carga e rodoviários, estações de modais, passarelas, pontes e outros, a avaliação é de que as estruturas pré-fabricadas são bastante aplicadas. Pode-se entender que, pelo prazo, e também especificações pré-definidas de editais ou do próprio cliente, bem como a tipologia da edificação, essa seja uma alternativa ideal. Quando se pensa em déficit habitacional brasileiro, volume de habitação a ser construída, a solução do uso do pré-fabricado vem ao encontro das necessidades da velocidade e confiabilidade das obras, bem como a tendência da escassez, cada vez maior, de mão de obra. Já em relação ao mercado imobiliário, esse panorama pode se alterar em razão de prazo, custo e mão de obra. As tipologias dos projetos podem ou não considerar o uso de pré-moldados. Neste caso, torna-se ainda mais relevante que o projeto se inicie com a determinação dos sistemas construtivos, para que os ganhos sejam os maiores, tanto do ponto de vista da obra, quanto do resultado final do projeto. 
 

Com analisa a tendência do uso de pré-fabricado em painéis de fachada? 
Conheço os pré-fabricados de fachada desde 1992 quando fui trabalhar em uma empresa que os produzia no norte de Québec, Canadá. Pouco tempo depois, esta empresa foi montada no Brasil. Essas estruturas são componentes de concreto armado sem função estrutural e acabados para cumprir funções arquitetônicas. O espaço para maior uso da construção industrializada é uma questão mais cultural que econômica. O projeto tem de ser iniciado com esta premissa. A desenvoltura que arquitetos trabalham os pré-fabricados de fachada no Canadá e EUA é uma realidade corriqueira. Determina-se a diretriz da aplicação do sistema construtivo e parte-se para as discussões e avaliações técnicas necessárias. Desde que a solução nasça com o projeto, pode-se reduzir até 35% do tempo de construção em relação às soluções moldadas in loco. 


O que fazer para que os painéis arquitetônicos sejam mais utilizados no Brasil?
Para ele ganhar mais espaço nas soluções arquitetônicas brasileiras, será necessário maior aculturamento, tanto por parte dos contratantes quanto dos arquitetos. Dependendo das tipologias do projeto, para qual uso ele será destinado, a aplicação do pré-fabricado torna-se quase inevitável. Quando o ROI deve ser imediato, se tem pressa no retorno do investimento, a conta do valor do pré fabricado em relação ao tempo ganho na obra deve ser considerada. A distância da fábrica ao local da obra, a dimensão das peças a serem feitas, o tamanho do caminhão, a tolerância de peso do leito carroçável, tudo isso tem de ser pensado de forma holística - projeto e obra. Outra palavra a se considerar é a tolerância entre o previsto em projeto e o realizado em obra, principalmente em relação à estrutura de concreto moldada in loco, ao se considerar o pré-fabricado. Ao se trabalhar com materiais originais em sua base de revestimento que são as pedras, bastante ricas no Brasil em diversidade e cores, passa a ser uma vantagem de aplicação no país.
Para que este processo seja mais amplamente utilizado, o arquiteto deve ter o pleno conhecimento das técnicas empregadas, suas liberdades e restrições, limitações de fabricação e montagem, quais são os detalhes executivos típicos, interfaces com os demais subsistemas da obra. Os detalhes de fixação junto à estrutura, fixação, ancoragens, nivelamento de ancoragens, devem estar no planejamento do projeto. Há outras interfaces que também devem ser levadas em consideração, como a inter-relação com as vedações internas, diversos tipos de caixilhos, e as tubulações hidráulicas e elétricas que possam vir a passar dentro dos painéis. Os arquitetos também não podem deixar de considerar soluções mistas, como pré fabricado de concreto, estrutura metálica e concreto in loco. 
 

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