Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 7 - abril de 2016

ARTIGO TÉCNICO

Desenvolvimentos na pré-fabricação do concreto. Lições do passado e avanços para o futuro

Pré-fabricação com concreto protendido e o desenvolvimento de pontes pré-moldadas
Eugène Freyssinet, em um original inédito, escreveu. “Um dia, de repente, me ocorreu que embora eu não pudesse forçar o concreto a adaptar-se à tensão do aço sem ruptura, eu poderia impor a tensão do concreto ao aço. Tudo que seria necessário fazer seria impor tensões totais de tração mais elevada em todos os reforços como um todo, assim, mesmo que elas se adaptassem a maiores tensões do concreto, ele ainda seria permanentemente comprimido.”
No dia 2 de outubro de 1928, Freyssinet e seu bom amigo Séailles deu entrada a uma patente em Paris (posteriormente outorgada sob o número 680 547), que tinha uma descrição muito precisa e longa sobre a teoria da pré-compressão permanente do concreto ou de outros materiais, e sobre todas as possíveis maneiras de obtê-la em um ambiente real de construção ou indústria. A matriz era fundida. Começando absolutamente do zero, Freyssinet estava criando o corpus da tecnologia da protensão. 
Esse processo desafiou até mesmo a imensa criatividade inventiva de Freyssinet. Ele teve de encontrar soluções para todos os detalhes envolvidos na produção em massa de elementos de concreto protendido que existem hoje até mesmo nas menores fábricas. Ele definiu a colocação exata dos fios, o que é vital para os elementos protendidos, porque a colocação inadequada pode causar uma deformação inicial irreparável; projetou a estrutura dos moldes, equilibrando suas ancoragens pela variação dos braços da alavanca; assegurou a precisão absoluta de cada fio protendido com jacks e contrapesos; e inventou caixarias versáteis cujos comprimentos podiam ser variados à vontade para redução da tensão, com a colocação de fixações na base e na ponta. 
O concreto de Freyssinet representou um passo gigantesco à frente na pré-fabricação. Sua altíssima qualidade ainda não foi igualada na fabricação de concreto protendido industrial. Freyssinet usou um método especial que consistia essencialmente da moldagem do concreto em apenas alguns poucos segundos e então o submetendo a uma vigorosa vibração (antes e depois de sua colocação na caixaria). O concreto recebia então uma grande quantidade de água para assegurar uma moldagem satisfatória e a fixação na caixaria, a despeito do grande número de fios que deviam ser adaptados em espaços muito pequenos. O excesso de água era então expelido pela alta pressão exercida por um molde de plástico inflável por água e protendido. 
Freyssinet não devotou qualquer atenção especial à pré-fabricação em seus escritos. Ele escreveu somente um artigo sobre o tema, já no final de sua vida, intitulado "Préfabrication et bâtiment". Esse artigo tem algumas observações particularmente interessantes sobre os obstáculos que restringiram o uso da pré-fabricação na construção, em que ele mesmo raramente interveio.  
Ele identificou que a causa primordial era a improvisação inerente no mundo da construção, em que os empreiteiros nunca consideram um comprometimento em longo prazo, nem pesquisas ou estudos em profundidade. Em vez disso, é dada prioridade ao desempenho imediato, diferentemente da prática em grandes indústrias, onde a decisão de produzir em massa um determinado modelo é adotada depois de muitos anos de testes, pesquisas e verificações.   
Ele tinha plena consciência da enorme importância social da pré-fabricação, que pouparia os operários de muito esforço físico doloroso e de muitas horas em andaimes, expostos aos elementos. Freyssinet tinha esperança de que a pré-fabricação, em última análise, superaria a rotina, a inércia e os interesses escusos que frustravam o desenvolvimento da industrialização total e, portanto, da pré-fabricação. 
Em 1875, um século depois que a famosa ponte de ferro de Abraham Darby foi erigida em Coalbrookdale em 1779, Joseph Monier construiu a primeira ponte de concreto protendido do mundo. A construção de 1875 de Monier tinha um vão de 16 m e tinha 4 m de largura. 
As pontes de concreto protendido datam do início do século 20, praticamente desde o início da pré-fabricação do concreto. Estruturas construídas nos anos trinta podem ser encontradas na maioria dos países desenvolvidos, principalmente em pontes de vãos pequenos e geralmente restritas a pequenas obras.
Em 1936, Freyssinet construiu a primeira ponte de concreto protendido na história, na Barragem Portes de Fer, com um vão de 19.0 m e uma largura de 4.60 m. O concreto foi despejado para formar flanges inferiores das vigas, depois que o reforço longitudinal já havia sido protendido contra a caixaria. As estruturas verticais foram então protendidas antes da fundição dos entrelaçamentos e dos flanges superiores. Toda tensão preliminar era sempre suportada pelas caixarias. O concreto era "vibrado, comprimido e aquecido para acelerar o endurecimento", como em todos os projetos de Freyssinet. 
O verdadeiro avanço no campo das pontes de concreto protendido veio nos anos 50 e 60 acionado pelo crescimento acentuado no tráfego rodoviário e pela construção de novas rodovias. Soluções rápidas e econômicas eram necessárias para a construção de passagens subterrâneas e viadutos que perturbassem o mínimo possível o tráfego em curso. Ao mesmo tempo, a introdução de técnicas de pré-tensão nas fábricas de concreto protendido contribuiu substancialmente para o desenvolvimento de unidades mais longas e mais delgadas, que eram particularmente úteis em pontes com vãos mais compridos projetadas para suportar cargas pesadas. 
Uma visão geral dos mais de 50 anos de construção de pontes de concreto protendido revela um crescimento constante no número de pontes pré-fabricadas, bem como no tamanho e no peso das unidades pré-moldadas usadas. No entanto, o desenvolvimento entre países não foi igual. Em alguns países, inclusive Bélgica, Itália, Holanda, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, onde pontes de concreto protendido têm uma penetração no mercado de 50 % ou mais, essas estruturas são tão populares a ponto de serem consideradas como uma solução convencional.

Nós usamos cookies para compreender o que o visitante do site Industrializar em Concreto precisa e melhorar sua experiência como usuário. Ao clicar em “Aceitar” você estará de acordo com o uso desses cookies. Saiba mais!