Associação Brasileira da Construção

Industrializada de Concreto

Industrializar em Concreto 15 - dezembro de 2018

ABCIC EM AÇÃO

Seminário aborda uso de novas tecnologias do concreto em obras de infraestrutura

Iniciativa da Abcic reúne especialistas internacionais para discutir tema definido em 2015 pelo planejamento estratégico da associação

Durante a segunda parte da programação do seminário, a influência de fibras no desempenho do concreto voltou a ser abordada, dessa vez pelo engenheiro Wellington Repette, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Por meio de uma abordagem extremamente didática e ilustrada, apresentou conceitos de dosagem e aplicações do UHPC, mencionando que a incorporação de fibras na mistura do concreto deve ser feita com a ressalva de que é possível haver corrosões aparentes na superfície; dessa maneira, o uso de concreto reforçado com fibras pode não ser o mais indicado para painéis de fachada.  
Entretanto, Repette lembrou estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) acerca da indústria da construção. “Sobre sistemas construtivos, a análise da FIESC apontou como tendências a construção híbrida, pré-fabricação, modularização e o uso do UHPC que, aliás, é uma tendência mundial", explicou.    
As duas últimas palestras do dia relacionaram a realidade brasileira com o emprego de novas tecnologias de materiais. Marco Antonio Cárnio, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), avaliou que as normas sobre fibras eram insuficientes no Brasil, porém, a ABNT NBR 16475: 2017 Painéis de Parede de Concreto Pré-Moldado, em especial o capítulo 7 da norma, trouxe informações importantes sobre o emprego de fibras. Também chamou atenção do público para a reunião e instalação das seguintes comissões de estudo da ABNT no dia 6 de dezembro na POLI/USP: CE 002:124.026 - Comissão de Estudo de Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibras, CE 018:300.011 - Comissões de Estudo de Concreto Reforçado com Fibras e CEE 193 - Comissão de Estudo Especial de Materiais Não Convencionais para Reforço de Estruturas de Concreto. Antônio Domingues de Figueiredo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP), apontou que o futuro da construção é inseparável do processo de pré-fabricação, pois oferece maior controle de qualidade e sobre processos, como o lançamento do concreto em formas, etapa importante para o desempenho do concreto reforçado com fibras, pois influencia diretamente na direção do componente metálico ou de vidro.    

Dominique Corvez, CEO da Ductal para as Américas, da LafargeHolcim, abre os trabalhos da tarde dedicados ao material UHPC e desenvolvimento de ações no Brasil

 

 

Debate chama atenção para infraestrutura e desenvolvimento tecnológico

Durante a programação do seminário, aconteceram duas mesas de debates, onde os palestrantes convidados puderam trocar impressões, além de responder a questionamentos feitos pelo público presente. Na primeira delas, a questão da infraestrutura ganhou relevo. Os convidados de diferentes continentes citaram a substituição da infraestrutura deficiente como uma questão que não afeta apenas o Brasil, mas como um problema mundial, afetando também países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Considerando o contexto global e a definição de tecnologias a serem adotadas, especialmente as inovadoras, a mesa aconselhou uma maior integração entre indústrias e fabricantes por meio da promoção de visitas técnicas, como as promovidas pelo Instituto de Concreto Pré-Fabricado (PCI) em território norte-americano e as missões técnicas internacionais organizadas pela Abcic. Sobre a situação presente nos Estados Unidos, o engenheiro Maher Tadros, da Universidade de Nebraska, observou que a indústria da construção local ainda sofre os efeitos da crise iniciada em 2008, porém, o estímulo às soluções industrializadas serviu para atenuar esse cenário. Também comentou sobre a situação norte-americana de normas sobre infraestrutura, pluralizada por especificações que variam de acordo com cada um dos cinquenta estados que compõem os EUA. Segundo Milan Kalný, engenheiro checo, a Europa vive uma situação semelhante de diversidade de normas, pois os países que integram o continente diferem muito em aspectos econômicos, geográficos e políticos. Questionados sobre como a pré-fabricação em concreto pode contribuir para a manutenção de pontes, Tadros comentou sobre a experiência americana, enfatizando que o método Accelerated Bridges Construction (ABC) é interessante para atividades de manutenção de pontes com pequenos vãos. Já para pontes novas e de maiores vãos, sempre que possível, deve se optar por elementos produzidos industrialmente, pois com essa técnica os impactos em rodovias são menores. Tais impactos envolvem o tempo de interdição de estradas, reduzido pelo uso de soluções pré-fabricadas, sendo que com técnicas industrializadas, pontes que seriam construídas em mais de 2 meses ficam prontas em apenas três dias. Tadros frisou o grande desenvolvimento do sistema pré-moldado em concreto aplicado em pontes nos EUA. “As pontes industrializadas foram introduzidas nos EUA na década 50, sendo que hoje mais da metade do total de pontes do país é erguida com estrutura pré-moldada em concreto. O aumento no uso foi efeito de avanços em design, métodos de análise e desenvolvimento de novos sistemas, que envolvem diferentes técnicas de protensão, fabricação de componentes e o emprego de novos materiais", informou. O engenheiro malaio Yen Lei Voo ressaltou o papel da infraestrutura como cenário adequado para a diversificação do uso de UHPC, pois o material oferece custos vantajosos em obras desse porte, além de minimizar a necessidade de manutenção. Também observou que o crescimento exponencial da população demanda cada vez mais obras de infraestrutura, oferecendo uma oportunidade para empresas iniciarem atuação em países com população crescente, a exemplo do que fez a empresa na qual é CEO, a Dura, que expandiu suas atividades para a China e Índia. Sobre o uso do UHPC, a recomendação foi de que é um material relevante a ser considerado pela indústria, viabilizado não pelo custo do m3, mas pelas vantagens em custos de transporte, esbeltez, resistência e novas possibilidades arquitetônicas e durabilidade. A engenheira Íria finalizou o primeiro debate, enfatizando o trabalho realizado pelo PCI, nos Estados Unidos, ao tomar conhecimento, por meio do TG6.5 da fib, dos trabalhos viabilizados na Malásia e apresentados pelo professor Voo – com participação de 6 empresas e 3 universidades americanas -, que resultaram na implantação do UHPC. "É necessário que haja uma base de normalização, presença da academia e uma forte vontade da indústria em avançar neste contexto. Viabilizar este trabalho também foi possível graças à fundação do PCI e ao apoio e incentivo do governo norte-americano; então, seria de fundamental importância que no Brasil pudéssemos avançar mais nesse sentido", concluiu.

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